A tiroidite linfocitária passa por várias fases, podendo ou
não durante a progressão da doença
observar-se hipotiroidismo clínico. Graham, Refsal & Nachreiner (2007) referem as seguintes fases:
1- Tiroidite subclínica, em que há infiltração de linfócitos
na glândula, com carácter focal,
dispondo-se os linfócitos muitas vezes à periferia dos folículos
tiroideus. A glândula tem um aspecto
histológico normal na sua quase totalidade. Neste estágio da doença, a única
alteração laboratorial é a presença de
anticorpos anti-tiroglobulina.
2- Hipotiroidismo subclínico com presença de anticorpos
anti-tiroglobulina. Neste estágio da
doença há uma alteração patológica da tiróide em 60 a 70% da sua massa;
laboratorialmente há uma elevação da TSH
para estimular o restante tecido da tireóide, de modo a manter os níveis
séricos de T4 dentro da normalidade. Nesta fase as células epiteliais
foliculares alteram a sua forma histológica de cuboidais para colunares. Para
além do já referido aumento da concentração de TSH, observa-se também a
presença de anticorpos contra a tiroglobulina, mantendo-se as concentrações
séricas de T4 e T3 dentro dos parâmetros normais.
3- Hipotiroidismo clínico com presença de anticorpos. Este estágio
atinge-se quando quase todo o tecido
funcional da tireóide foi destruído pela inflamação, e a concentração de T4
não se mantém estável.
Laboratorialmente, além da baixa concentração de T4, regista-se um aumento na concentração sérica de TSH e existem
anticorpos anti-tiroglobulina. Estes dados
laboratoriais, podem só ser encontrados após algum tempo do início dos
sinais clínicos de hipotiroidismo.
4- Hipotiroidismo com atrofia tiroideia e ausência de
anticorpos anti-tiroglobulina. Há dados
que sugerem que haja substituição do tecido tiroideu normal por tecido
adiposo e tecido fibroso, com
desaparecimento das células inflamatórias, o que vai levar à aparência histológica de atrofia glandular. A ausência
de inflamação nesta fase da doença é devida,
provavelmente, ao desaparecimento gradual de anticorpos da circulação
sanguínea. Ainda está por definir, qual
o significado que os animais, que são examinados nesta fase poderão ter no total
dos 50% dos animais que consideramos terem hipotiroidismo idiopático, por serem
negativos para a presença de anticorpos anti-tiroglobulina.
Nem todos os animais que têm indícios de tiroidite
linfocitária evoluem para hipotiroidismo, podendo haver uma progressão lenta ou
limitada em alguns cães (Graham et al., 2001).
Anticorpos contra a
tiroglobulina
Entre 36 a 50% dos cães com hipotiroidismo são positivos
para a presença de anticorpos contra a
tiroglobulina. Estão atualmente disponíveis testes ELISA comerciais para a
detecção destes anticorpos, alguns dos quais com valores elevados de
especificidade, em que apenas 5% dos cães têm resultados falsos negativos
devido a outras endocrinopatias. Estudos referem que a vacinação pode induzir a
formação de anticorpos anti-tiroglobulina, mas num trabalho recente não se conseguiu
demonstrar a relação causal (Scott-Moncrieff, Glickman, Glickman &
HogenEsch, 2006).
Não está provado até ao momento, se todos os cães que
apresentam tiroidite linfocitária desenvolvem hipotiroidismo. Num estudo em que
171 cães com anticorpos contra a tiroglobulina foram seguidos por um período de
12 meses observou-se que 4% desenvolveram hipotiroidismo, 13% apresentaram
sinais de hipotiroidismo e em 15% os anticorpos desapareceram (Graham et al.,
2001).
Especula-se que a progressão da tiroidite linfocitária varie
consoante a raça. Deste modo, as raças
com maior incidência de anticorpos anti-tiroglobulina são o Golden retriever,
Gran Danois, Setter inglês e irlandês,
Doberman pinscher, Old english sheepdog, Dálmata, Basenji, Leão da rodésia, Boxer, Maltese terrier,
Chesapeake Bay retriever, Cocker spaniel, Shetland sheepdog, Siberian Husky, Border collie e
Akita (Graham et al., 2001). Foi sugerido que, em animais destinados à criação, deveriam ser
realizados testes para a detecção da presença de tiroidite linfocitária, numa tentativa de
serem eliminadas as formas hereditárias dessa doença. Contudo, permanece ainda por provar se esta
medida é, ou não, efectiva (Ettinger & Feldman, 2005).
Animais positivos para anticorpos
anti-tiroglobulina e com valores normais de concentração de tT4, fT4 e de TSH
deveriam ser regularmente seguidos, reavaliando-se a função da tiróide pela
realização de testes específicos em intervalos de tempo regulares (cada 3 a 6
meses). Assim, procura-se controlar a progressão da doença, e o tratamento do
hipotiroidismo não deve ser considerado uma opção para estes cães. Além disso,
estes animais não devem também ser considerados candidatos a uma terapêutica
imunosupressora, pois, os efeitos adversos destas drogas são bastante mais
graves do que a suplementação com l-tiroxina isoladamente. Este último caso
justifica-se apenas se forem observados sinais ou testes funcionais indicativos
da presença efectiva de hipotiroidismo (Ferguson, 2007).
Perfil Tireoidiano Canino Completo
Material: 2,0 ml de soro.
Condições de coleta: Jejum de 4 horas.
Exames realizados: TSH, T4 Livre por diálise, T4 Total, TgAA
Comentários: A maioria dos cães com hipotireoidismo apresenta valores de TT4 baixo (>90% deles), tornando este um teste com elevada sensibilidade no diagnóstico. Por outro lado, cães com outras doenças, muitas vezes, têm baixa de TT4 como parte de sua resposta fisiológica.
O teste de TSH tem > 90% de especificidade no diagnóstico de hipotireoidismo quando utilizado com T4 total ou T4 livre por diálise. Quimioluminescência é o teste mais preciso para dosagem de TSH.
A presença de TgAA no soro é fortemente sugestiva de tireoidite linfocítica imuno mediada que é responsável por mais da metade dos casos de hipotireoidismo canino.
Quase todo T4 circulante está ligado a proteínas transportadoras, deixando apenas uma pequena fração disponível para interagir com os tecidos. Esta fração livre pode ser mensurada por radioimunoensaio após diálise de equilíbrio. O efeito de outras doenças não representa tanta variação para o T4 livre por diálise.
A análise do T4 livre por diálise de equilíbrio é a maneira mais precisa de avaliar a tireóide de um animal. As amostras são dialisadas, separando o T4 livre das proteínas séricas.
Prazo: 5 dias úteis.
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